Hoje vou contar 2 mambos que se passaram com o meu bolide – o meu lindinho, bonitinho, tao amado BMW branco que me ofereceram em 76 quando tirei a carta e quem me deu esse nao me da mais! O primeiro mambo aconteceu em 77, na Samba, Bairro Azul. Se nao me engano, a rua chamava-se Francisco de Sotto Mayor, mas era conhecida pela rua do Tivoli. Eu estava sentada no carro, parada a porta de uma casa ja la no fundinho da rua, antes da curva, a mesma casa onde uns dias antes do Natal de 79, uma explosao destruiu a parte toda traseira, com consequencias mortais para um dos moradores. Mas isso e outro mambo e esse e triste. Conforme eu dizia, estava eu quietinha no meu carrito, sem fazer mal a ninguem, quando de repente, vem um camiao enorme por tras, passa por mim a toda a velocidade e ao passar, a parte de cima do reboque fica presa num galho enorme da tal arvore. O motorista nem topou! Continuou a mesma velocidade e de repente eu ouvi um barulho ensurdecedor. Olho para tras e fico de boca aberta: o banco traseiro tinha desaparecido! O tal galho tinha caido em cima do carro e estava sentadinho no banco de tras! Por sorte nao estava la ninguem! Devo dizer antes que alguem pergunte, que o bolide recuperou bem desse acidente.
O mesmo ja nao posso afirmar do acidente seguinte. Esse passou-se em 80. Era o dia do aniversario do Luis e ele decidiu ir a Corimba (tinha la uns kambas) arranjar cerveja. Foi com 2 amigos. O acidente aconteceu quando eles ja estavam de volta. Iam na estrada da Corimba, e embora ele tenha jurado que nao, aposto o meu ultimo euro em como iam a alta velocidade. De repente, atravessa-se um animal a frente do carro – o Luis passou-lhe por cima com a roda da frente e o carro virou. Ele saiu ileso, o amigo que ia a frente tambem e so o outro passageiro e que foi atirado para fora do carro pelo vidro de tras e “limpou” uns metros do asfalto com as costas, tendo de ficar no hospital uma noite. Considerando como o acidente foi aparatoso e como o carro ficou totalmente destruido, eles tiveram muita sorte! O Luis disse que tinha sido impossivel evitar o rinoceronte, os outros dois estavam convencidos que tinha sido uma cabra, mas ele jurou que se era cabra era do tamanho de um rinoceronte e so teve pena que por ter ficado sem carro, nem sequer pode trazer a besta para casa, para o churrasco da festa!
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
L'amitie
Ca fleurit comme une herbe sauvage
N'importe où, en prison, à l'école,
Tu la prends comme on prend la rougeole
Tu la prends comme on prend un virage
C'est plus fort que les liens de famille
Et c'est moins complique que l'amour
Et c'est là quand t'es rond comme une bille
Et c'est là quand tu cries au secours
C'est le seul carburant qu'on connaisse
Qui augmente à mesure qu'on l'emploie
Le vieillard y retrouve sa jeunesse
Et les jeunes en ont fait une loi.
C'est la banque de toutes les tendresses
C'est une arme pour tous les combats
Ca réchauffe et ca donne du courage
Et ça n'a qu'un slogan " on partage"
Au clair de l'amitié
Le ciel est si beau
Viens boire à l'amitié
Mon ami Pierrot
L'amitié c'est un autre langage
Un regard et tu as tout compris
Et c'est comme S.O.S. dépannage
Tu peux téléphoner jour et nuit.
L'amtitié c'est le faux témoignage
Qui te sauve dans un tribunal
C'est le gars qui te tourne les pages
Quand tu es seul dans un lit d'hopital
C'est la banque de toutes les tendresses
C'est une arme pour tous les combats
Ca rechauffe et ca donne du courage
Et ca n'a qu'un slogan : "on partage"
Herbert Pagani
N'importe où, en prison, à l'école,
Tu la prends comme on prend la rougeole
Tu la prends comme on prend un virage
C'est plus fort que les liens de famille
Et c'est moins complique que l'amour
Et c'est là quand t'es rond comme une bille
Et c'est là quand tu cries au secours
C'est le seul carburant qu'on connaisse
Qui augmente à mesure qu'on l'emploie
Le vieillard y retrouve sa jeunesse
Et les jeunes en ont fait une loi.
C'est la banque de toutes les tendresses
C'est une arme pour tous les combats
Ca réchauffe et ca donne du courage
Et ça n'a qu'un slogan " on partage"
Au clair de l'amitié
Le ciel est si beau
Viens boire à l'amitié
Mon ami Pierrot
L'amitié c'est un autre langage
Un regard et tu as tout compris
Et c'est comme S.O.S. dépannage
Tu peux téléphoner jour et nuit.
L'amtitié c'est le faux témoignage
Qui te sauve dans un tribunal
C'est le gars qui te tourne les pages
Quand tu es seul dans un lit d'hopital
C'est la banque de toutes les tendresses
C'est une arme pour tous les combats
Ca rechauffe et ca donne du courage
Et ca n'a qu'un slogan : "on partage"
Herbert Pagani
Bye TAAG
Quando deixei a TAAG, fui trabalhar para a Astaldi – um emprego que me arranjou a minha amiga Gisela.
A Astaldi era uma companhia Italiana de construccao civil. Era uma companhia de servicos as petroliferas.
Posso afirmar, sem receio de engano, que foi um dos empregos em que mais aprendi. Talvez nao necessariamente coisas essenciais ou coisas que necessitava aprender, mas de qualquer modo foi muito educativo. Na Astaldi aprendi que as petroliferas constroem armazens para guardar lama. Alias era uma das maiores fontes de rendimento da companhia, os armazens de lamas. Ao principio ate pensei que tinha percebido mal, mas depois de ver a palavra em frances e em ingles nos documentos da companhia, tive de me render a evidencia e aceitar que era realmente isso que eles construiam: armazens de lamas!
La aprendi tambem que os Italianos precisam de escritorios espacosos – muito maiores do que aquele em que estavam alojados, na Rua Mouzinho de Albuquerque. Infelizmente, la espaco nao havia muito e o resultado era que o pessoal angolano estava sempre no lugar errado, entre 2 italianos, o que era bastante mau para a nossa saude, ja que quando eles conversavam nos tinhamos que evitar levar com os gestos deles na cara. O pior era que frequentemente eles nao conversavam, discutiam quase ao ponto de se atacarem fisicamente – e nao ligavam muito ao facto de nos estarmos no meio!
Na Astaldi aprendi Italiano, embora nao tivesse necessidade pois a lingua “oficial” era o frances. Mas eu sempre fui muito curiosa! O facto e que eles nos deixavam ir a loja italiana e era um pouco chato nao saber o que estavamos a comprar! Um pouco como quando fomos de ferias a Croacia ha 2 anos, e no supermercado a minha filha perguntou-me: “Precisamos de putar?” “Putar? O que e isso?” “Nao faco a minima ideia, mas a embalagem e bonita”. A outra razao que me levou a aprender a lingua, foi o facto de eu estar convencida que percebia bem o italiano, ate que um dia descobri que nao era verdade. Eles passavam a vida a dizer “pomeriggio” p’ra ca, “pomeriggio” p’ra la e eu convencidissima (por causa do frances) que isso tinha algo a ver com compota de maca! No dia em que descobri que era “periodo da tarde”, decidi que tinha de aprender a lingua. So que, a medida que o meu vocabulario aumentava, o meu conhecimento de palavroes aumentava em proporcao directa! Devo dizer que a maior parte deles eu nem em Portugues conhecia! Os vocabulario dos italianos com quem eu trabalhei ate faria qualquer habitante do Porto corar de embaraco!
Antes de deixar a Astaldi, fui a um jantar que o director ofereceu ao pessoal angolano. Foi a primeira vez que comi beringelas. Hoje gosto, mas aquelas nao tinham sido muito bem cozinhadas, estavam cheias de oleo, foi a pior coisa que ja comi na minha vida! Mas bem educada como sempre fui, engoli o que pude sem me queixar! Hoje quando convido alguem e me dizem que nao comem isto ou nao gostam daquilo (normalmente o menu completo do jantar), fico a pensar como em Angola, “la nas Africas” como muitos dizem aqui, mostravamos muito mais cortesia e boa educacao!
A Astaldi era uma companhia Italiana de construccao civil. Era uma companhia de servicos as petroliferas.
Posso afirmar, sem receio de engano, que foi um dos empregos em que mais aprendi. Talvez nao necessariamente coisas essenciais ou coisas que necessitava aprender, mas de qualquer modo foi muito educativo. Na Astaldi aprendi que as petroliferas constroem armazens para guardar lama. Alias era uma das maiores fontes de rendimento da companhia, os armazens de lamas. Ao principio ate pensei que tinha percebido mal, mas depois de ver a palavra em frances e em ingles nos documentos da companhia, tive de me render a evidencia e aceitar que era realmente isso que eles construiam: armazens de lamas!
La aprendi tambem que os Italianos precisam de escritorios espacosos – muito maiores do que aquele em que estavam alojados, na Rua Mouzinho de Albuquerque. Infelizmente, la espaco nao havia muito e o resultado era que o pessoal angolano estava sempre no lugar errado, entre 2 italianos, o que era bastante mau para a nossa saude, ja que quando eles conversavam nos tinhamos que evitar levar com os gestos deles na cara. O pior era que frequentemente eles nao conversavam, discutiam quase ao ponto de se atacarem fisicamente – e nao ligavam muito ao facto de nos estarmos no meio!
Na Astaldi aprendi Italiano, embora nao tivesse necessidade pois a lingua “oficial” era o frances. Mas eu sempre fui muito curiosa! O facto e que eles nos deixavam ir a loja italiana e era um pouco chato nao saber o que estavamos a comprar! Um pouco como quando fomos de ferias a Croacia ha 2 anos, e no supermercado a minha filha perguntou-me: “Precisamos de putar?” “Putar? O que e isso?” “Nao faco a minima ideia, mas a embalagem e bonita”. A outra razao que me levou a aprender a lingua, foi o facto de eu estar convencida que percebia bem o italiano, ate que um dia descobri que nao era verdade. Eles passavam a vida a dizer “pomeriggio” p’ra ca, “pomeriggio” p’ra la e eu convencidissima (por causa do frances) que isso tinha algo a ver com compota de maca! No dia em que descobri que era “periodo da tarde”, decidi que tinha de aprender a lingua. So que, a medida que o meu vocabulario aumentava, o meu conhecimento de palavroes aumentava em proporcao directa! Devo dizer que a maior parte deles eu nem em Portugues conhecia! Os vocabulario dos italianos com quem eu trabalhei ate faria qualquer habitante do Porto corar de embaraco!
Antes de deixar a Astaldi, fui a um jantar que o director ofereceu ao pessoal angolano. Foi a primeira vez que comi beringelas. Hoje gosto, mas aquelas nao tinham sido muito bem cozinhadas, estavam cheias de oleo, foi a pior coisa que ja comi na minha vida! Mas bem educada como sempre fui, engoli o que pude sem me queixar! Hoje quando convido alguem e me dizem que nao comem isto ou nao gostam daquilo (normalmente o menu completo do jantar), fico a pensar como em Angola, “la nas Africas” como muitos dizem aqui, mostravamos muito mais cortesia e boa educacao!
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
O misterio das cabecas de peixe
Como estao todos fartos de saber, a dieta em Luanda, nos primeiros tempos do pos-dipanda, era variada: peixe frito, ou peixe frito...ou ainda peixe frito....e sempre com arroz de tomate! No entanto, dependendo do “poder de troca” (nao do poder de compra pois o dinheiro nao valia grande coisa nessa altura), as vezes conseguia-se outras coisas. Quem trabalhasse na fabrica de cigarros AC, por exemplo, usava os cigarros para trocar por cerveja com alguem que trabalhasse na Cuca, que por sua vez trocava por uma galinha, um peru. A moeda de troca suprema era uma garrafa de whisky....do verdadeiro, nao daquele que todos destilavam nos anexos do quintal! ou que se comprava avulso em garrafas de plastico e do qual se desconhecia completamente a proveniencia ou a composicao! Nao conheco ninguem que depois de beber o tal vendido avulso tenha esticado o pernil, mas conheco muitos que tiveram dor de barriga a serio! Uma garrafa de whisky, geralmente acompanhada de algo mais “trivial” como por ex um saco de acucar ou batata (todo o mundo andava farto de arroz!), dava direito a troca suprema: um porco! Infelizmente havia um senao: os porcos, que tinham exactamente a mesma dieta que nos, tinham um gosto degueulasse a peixe! Era ainda pior do que comer peixe espada todos os dias! Tambem nao durou muito, os poucos porcos que havia, com gosto a peixe ou nao, foram rapidamente devorados e tornaram-se raca extinta! Comecou entao a ver-se o espirito combativo e lutador do angolano e comecaram a criar-se galinhas.....em apartamentos! Se pensam que a historia do porco em apartamento e invencao, enganam-se!
Quando eu comecei a trabalhar na Schlum, eu ia sempre almocar a casa ou entao ia para a praia a hora do almoco. Os estrangeiros que la trabalhavam nao tinham razao nem tempo para ir a casa e almocavam la, iam buscar o terno, que eles chamavam “take-aways” a cantina da Petrangol. O almoco nao variava: cabecas de carapau fritas com arroz de tomate e uma fatia de marmelada para sobremesa. Havia um engenheiro frances, de quem ainda hoje sou muito amiga, que so gostava da marmelada e trocava as cabecas dele pela marmelada dos outros e o almoco dele era sempre um prato cheinho de fatias de marmelada visto que os operadores angolanos nao gostavam e davam-lhe a deles tambem. Entretanto, o misterio das cabecas de peixe fazia uma confusao tal aos engenheiros, que resolveram armar em detectives para descobrir como os tais carapaus so tinham cabeca! Onde estavam os corpos? Foram undercover as cozinhas antes da hora do almoco e descobriram que os cozinheiros comiam-nos antes de servir as cabecas ao resto do pessoal!
Quando eu comecei a trabalhar na Schlum, eu ia sempre almocar a casa ou entao ia para a praia a hora do almoco. Os estrangeiros que la trabalhavam nao tinham razao nem tempo para ir a casa e almocavam la, iam buscar o terno, que eles chamavam “take-aways” a cantina da Petrangol. O almoco nao variava: cabecas de carapau fritas com arroz de tomate e uma fatia de marmelada para sobremesa. Havia um engenheiro frances, de quem ainda hoje sou muito amiga, que so gostava da marmelada e trocava as cabecas dele pela marmelada dos outros e o almoco dele era sempre um prato cheinho de fatias de marmelada visto que os operadores angolanos nao gostavam e davam-lhe a deles tambem. Entretanto, o misterio das cabecas de peixe fazia uma confusao tal aos engenheiros, que resolveram armar em detectives para descobrir como os tais carapaus so tinham cabeca! Onde estavam os corpos? Foram undercover as cozinhas antes da hora do almoco e descobriram que os cozinheiros comiam-nos antes de servir as cabecas ao resto do pessoal!
terça-feira, 8 de julho de 2008
Kambas
Luanda, a partir de 75, era um lugar fantastico para criar amizades.
Nao havia muito para fazer, a parte ir a praia, ou ver um filme ou outro que de vez em quando apareciam no Miramar ou Avis – foi assim que nessa altura vi muitos filmes em duplicado e ate em triplicado! Recordo-me de ter visto Tess 3 vezes, com a Nastassja Kinsky.
Mas o melhor mesmo era ir para casa de amigos fixes.
Lembro com saudade tardes e noites passadas em boa companhia a curtir musica. Devo confessar que nessa altura eu gostava de musica mas nao sabia muito (nada?) sobre o assunto e grande parte do que sei hoje devo a paciencia inesgotavel de um grande amigo que tentou educar-me musicalmente. Provavelmente, do ponto de vista dele, sem muito sucesso. A verdade e que foi nessa altura que o meu gosto pela musica se tornou mais "refinado". As tardes que eu passei escutando Miles Davis.........
As amizades que fiz nessa altura foram amizades serias, duradouras, para o resto da vida. Amigos que ainda hoje lembro com imenso carinho e que tento reencontrar sempre que posso - embora tenha perdido o contacto com alguns. Mas a net e uma especie de fada-madrinha, com varinha magica e tudo, e com a ajuda dela nada e impossivel.
Nao havia muito para fazer, a parte ir a praia, ou ver um filme ou outro que de vez em quando apareciam no Miramar ou Avis – foi assim que nessa altura vi muitos filmes em duplicado e ate em triplicado! Recordo-me de ter visto Tess 3 vezes, com a Nastassja Kinsky.
Mas o melhor mesmo era ir para casa de amigos fixes.
Lembro com saudade tardes e noites passadas em boa companhia a curtir musica. Devo confessar que nessa altura eu gostava de musica mas nao sabia muito (nada?) sobre o assunto e grande parte do que sei hoje devo a paciencia inesgotavel de um grande amigo que tentou educar-me musicalmente. Provavelmente, do ponto de vista dele, sem muito sucesso. A verdade e que foi nessa altura que o meu gosto pela musica se tornou mais "refinado". As tardes que eu passei escutando Miles Davis.........
As amizades que fiz nessa altura foram amizades serias, duradouras, para o resto da vida. Amigos que ainda hoje lembro com imenso carinho e que tento reencontrar sempre que posso - embora tenha perdido o contacto com alguns. Mas a net e uma especie de fada-madrinha, com varinha magica e tudo, e com a ajuda dela nada e impossivel.
quinta-feira, 12 de junho de 2008
domingo, 1 de junho de 2008
"Setora"
Em 76, devido a falta de professores, todos os alunos da universidade tinham de dar aulas.Eu fui parar a ex-Joao Crisostomo e a ex-Luisa de Gusmao. Claro que como professora era uma nulidade! Nao tinha preparacao nenhuma nem curriculos nem nada....No entanto, outra coisa que nao tinha eram problemas de disciplina com os alunos. Eram absolutamente amorosos! Eu tinha 18 anos, pouco mais velha do que alguns deles, mas todos me respeitavam. Na altura eu tinha um BMW em segunda mao que o Ze me tinha dado, e eles adoravam o carro. Punham-se todos a volta e diziam: “ A Setora conduz tao bem! Nao pode dar-nos uma boleia? So ate a praia, Setora!” Tinha um aluno cujo pai tinha loja e todos os dias me trazia chupa chupas. Mas aprendi rapidamente a nao dar redaccoes com tema livre – passei muitas noites a rir sozinha que nem uma maluca, enquanto corrigia!
E nao me perguntem como eu tinha tempo de estudar, dar aulas, trabalhar e ainda ter uma vida social bastante ocupada......eu acho que naquele tempo os dias tinham mais horas do que teem hoje! Pelo menos 36!
E nao me perguntem como eu tinha tempo de estudar, dar aulas, trabalhar e ainda ter uma vida social bastante ocupada......eu acho que naquele tempo os dias tinham mais horas do que teem hoje! Pelo menos 36!
quarta-feira, 21 de maio de 2008
...e mucuas
Quando o Mike estava a trabalhar em Luanda, andava triste porque nao havia lugar para fazer o desporto favorito dele. O que ele queria era ir as Pedras Negras, em Pungo Andongo, mas na altura era muito perigoso. Um dia descobriu que a falta de montanhas, podia escalar.....os imbondeiros!!! E um dia la fomos, a procura de imbondeiros apropriados ao alpinismo. Fartamo-nos de andar, p'ra frente e para tras, ate encontrarmos o imbondeiro ideal. Uns tinham formigas, outros nao eram suficientemente ingremes.... Ja estavamos para desistir quando finalmente, ele viu o imbondeiro perfeito, a sombra do qual estava sentado um velhote. Quando nos viu, imediatamente se ofereceu para nos vender a mucua que tinha. Eu nao tinha muita vontade de comer mucua, mas para ajudar o velhote e dar ao Mike a oportunidade de provar, ate porque ele estava curioso com essa fruta que nunca tinha visto, comprei. O Mike provou. Perguntei-lhe se tinha gostado. A resposta foi: "Quando eu quiser sentir-me como se estivesse a crescer-me barba nos dentes, estou seguro que arranjo uma maneira mais agradavel de o fazer, sem ter de comer mucua!"
Funge....
A primeira vez que levei o meu marido (nessa altura ainda nao era) a almocar a casa dos meus pais foi uma risada! Foi uma coisa totalmente espontanea, nao planeada. Eu tive de trabalhar num sabado de manha para acabar uma apresentacao a clientes e ele levou-me a casa. Perguntei se queria almocar embora nem soubesse o que era o tal almoco.....Um pouco arriscado, confesso, ja que corria o ano de 1983, em Luanda nao havia muita comida e comia-se aquilo que se arranjava! Nesse dia o Ze tinha ido visitar uns amigos pescadores ali mesmo na Chicala e tinha trazido peixe bom. Como nao havia arroz nem batatas, o peixe era acompanhado de funge, claro! Foi um filme! Ver o meu pai, Portugues, (que embora "habituado" ao funge e comendo-o regularmente, nao tinha por ele grandes amores!) a tentar ensinar um ingles a comer funge! Eu nao conseguia parar de rir! O meu pai molhava o funge no molho e dizia: "Diz-lhe que faca de conta que esta a comer ostras!" "NAO mastigue, HOMEM!!! ENGULA!!!Veja so como isto desliza pela goela abaixo!" Para tornar a situacao ainda mais comica, nesta altura o Mike ainda nao falava Portugues, e embora o Ze lesse e escrevesse um pouco de ingles, falar era outra conversa! Depois dizia-me: "Pensa bem, esse homem nunca vai aprender a gostar de funge!" Quando traduzi, o Mike respondeu: "Nao sei se quero aprender, nao!" Ainda hoje ele me diz na brincadeira que so os meus encantos o convenceram a ficar com uma mulher que come funge! E nao me perguntem o que eu vi num homem que nao come funge NEM mucua!
segunda-feira, 12 de maio de 2008
TAAG
O meu primeiro emprego a serio foi na TAAG - antes desse dei aulas mas isso nao conta e e outro mambo que contarei mais tarde. TAAG como devem saber, sao os Transportes Aereos de Angola ou "Take Another Goat" como os ingleses gostavam de se referir a companhia. O meu trabalho nao era muito fascinante; eu nao voava, tinha os pes bem firmes no chao! Trabalhei nas Financas, no quinto andar do predio da Luis de Camoes ou Rua da Missao, na seccao de Interline. Foi la que conheci a minha melhor amiga, uma daquelas amigas que sao mesmo para a vida inteira, uma daquelas que depois de nao nos vermos durante anos, encontramo-nos e e como se nos tivessemos visto ontem! Recomeca-se onde paramos ha 20 anos atras! O nosso trabalho era aceitar (ou rejeitar) facturacao de tickets nossos viajados em outras companhias. Muitas makas tivemos nos com a Cubana e outras que pensavam que nos podiam meter a unha! Hoje quando vou a uma agencia de viagens penso que o pessoal que la trabalha nao sabe a vida facil que tem. Poem no computador a origem, o destino, a data e ZAS! Teem o preco! Naquele tempo nos tinhamos de usar uns calhamacos duns manuais que nos davam a distancia em milhas de A a B a C e nos tinhamos de calcular, com a ajuda de uma maquina do tempo do caprandanda, quanto era a tal viagem! (quando contei isto as minhas filhas elas perguntaram-me se nunca fui atacada por nenhum dinossauro!) O departamento de computadores que ocupava o decimo andar inteiro (a TAAG era p’ra frentex, tinha computadores e tudo!) usava uns monstros dumas maquinas que trabalhavam com cartoezinhos perforados. A vida na TAAG era boa. As vezes iamos em grupos matabichar ao Tropico. O matabicho era sempre ovos com fiambre, mas sabia bem! As 5 em ponto era a debandada geral. Os elevadores iam tao cheios que nao conseguiam parar no R/C, iam directos a cave. O problema e que a unica maneira de sair da cave era pelo elevador...as vezes eram 6 horas quando conseguiamos finalmente sair do edificio! E interessante notar que eu sempre tive muito mais medo dos elevadores da TAAG do que de balas perdidas, emboscadas, recolher obrigatorio, denuncias, Casa da Reclusao, roubos, etc,etc....Naquele tempo havia muitas piadas sobre a seguranca dos voos (o pessoal que tinha sido enviado para a Jugoslavia ainda nao tinha acabado o curso) o que era injusto, pois nessa altura era a TAP que fazia a manutencao e providenciava a maior parte do pessoal de voo. Houve alguns sustos, mas nada por ai alem......e contava-se que numa emergencia do Sal a Havana descobriram que as caixas das mascaras de oxigenio tinham sido coladas com Patex, mas acho que isso foi so mujimbo..... Mas todo o mundo dizia que Deus era Angolano e jogava football pela TAAG!
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Pre-Dipanda
Um blog das minhas recordacoes sobre Angola nao ficaria completo nem faria sentido sem entradas sobre a minha infancia e adolescencia, sobre o tempo antes da independencia.
Geograficamente, Luanda era um paraiso. Nao era um paraiso sem problemas, devido as diferencas sociais que existiam. Tenho orgulho em dizer que os meus pais sempre tentaram ajudar pessoas afectadas por essas diferencas e gracas a essa atitude fizeram amigos para a vida inteira – amigos que em 2006 quando eles voltaram a Luanda de ferias, os acolheram de bracos abertos com imenso carinho.
Que dizer sobre esses anos inesqueciveis e especiais? Por onde comecar?
Guardo recordacoes lindas dos primeiros 17 anos de vida. Tive uma infancia e adolescencia muito mais “carefree” do que as minhas filhas, com menos preocupacoes. E embora lhes seja dificil a elas acreditar, fui muito feliz sem TV, celulares, computadores e internet. Sem roupas de marca nem ipods. Jogava ao ringue na rua e andava de bicicleta e de patins na rua tambem. Estas memorias sao preciosas, especialmente porque eu sou e sempre fui uma nulidade em desporto: joguei basket mas nunca fiz nada de jeito, a minha coordenacao (ou falta dela) entre os olhos e a mao (esquerda) e de bradar aos ceus, por isso nunca dei nada em tenis ou badminton, sei nadar bem mas sem estilo nenhum, as minhas filhas pensam que ver-me a fazer ski e uma das coisas mais divertidas do mundo, enfim, ja perceberam aonde quero chegar..... Mas andar de patins eu andava mesmo bem! Muito melhor do que a maioria. Infelizmente, patinagem nao constava da lista de desportos do livro da minha mae e por isso pos-me no ballet onde sempre me senti como um hipo fora da agua!
Eramos 3: eu era a do meio, a minha irma 3 anos e meio mais nova e a minha irma 7 anos mais velha que eu. Para ser exacta, ela e minha prima, mas por mais que recue no tempo, nao me lembro de mim sem ela. A nossa educacao foi bastante rigida. A minha mae era muito disciplinadora e nao nos dava liberdade nenhuma, muito embora tenha sido mais rigida com as 2 mais velhas do que com a caçula. Tinhamos de ir para a cama as 6 da tarde. Eramos acordadas as 3 ou 4 da manha para estudar – a minha mae tinha uma teoria que a essa hora estavamos mais frescas e aprendiamos melhor. Seria sem duvida verdade se eu tivesse realmente adormecido as 6 da tarde, o que nao era o caso – como nao conseguia dormir lia as escuras ate mais tarde. Nao podiamos ir a casa de amigas - o que nao impedia que fossemos sem a minha mae saber - nem podiamos convidar ninguem. Festas? Nem pensar! Havia rapazes nessas festas! No livro “como educar filhas” da minha mae, rapazes eram uma daquelas doencas epidemicas a evitar a todo o custo! Ainda hoje me rio quando me lembro das raras vezes que a minha irma mais velha saia a noite e a minha mae nao lhe dava a chave de casa para saber a que horas ela voltava. So que a minha mae adormecia e quando a mana chegava, batia na minha janela e eu abria-lhe sorrateiramente a porta. No entanto, e apesar de todos os entraves e limites colocados a minha frente, posso dizer que tive uma infancia feliz. Lembro-me com saudade dos veroes sem fim, das amigas da Vila Alice, das colegas de liceu, dos domingos passados na praia com a minha madrinha, das idas semanais a igreja com a minha avo, ao sabado. Lembro-me da primeira vez que me apaixonei, a primeira vista, um “coup de foudre” aos dez anos e pensei que ia ser para sempre! E foi!..........quase!
Geograficamente, Luanda era um paraiso. Nao era um paraiso sem problemas, devido as diferencas sociais que existiam. Tenho orgulho em dizer que os meus pais sempre tentaram ajudar pessoas afectadas por essas diferencas e gracas a essa atitude fizeram amigos para a vida inteira – amigos que em 2006 quando eles voltaram a Luanda de ferias, os acolheram de bracos abertos com imenso carinho.
Que dizer sobre esses anos inesqueciveis e especiais? Por onde comecar?
Guardo recordacoes lindas dos primeiros 17 anos de vida. Tive uma infancia e adolescencia muito mais “carefree” do que as minhas filhas, com menos preocupacoes. E embora lhes seja dificil a elas acreditar, fui muito feliz sem TV, celulares, computadores e internet. Sem roupas de marca nem ipods. Jogava ao ringue na rua e andava de bicicleta e de patins na rua tambem. Estas memorias sao preciosas, especialmente porque eu sou e sempre fui uma nulidade em desporto: joguei basket mas nunca fiz nada de jeito, a minha coordenacao (ou falta dela) entre os olhos e a mao (esquerda) e de bradar aos ceus, por isso nunca dei nada em tenis ou badminton, sei nadar bem mas sem estilo nenhum, as minhas filhas pensam que ver-me a fazer ski e uma das coisas mais divertidas do mundo, enfim, ja perceberam aonde quero chegar..... Mas andar de patins eu andava mesmo bem! Muito melhor do que a maioria. Infelizmente, patinagem nao constava da lista de desportos do livro da minha mae e por isso pos-me no ballet onde sempre me senti como um hipo fora da agua!
Eramos 3: eu era a do meio, a minha irma 3 anos e meio mais nova e a minha irma 7 anos mais velha que eu. Para ser exacta, ela e minha prima, mas por mais que recue no tempo, nao me lembro de mim sem ela. A nossa educacao foi bastante rigida. A minha mae era muito disciplinadora e nao nos dava liberdade nenhuma, muito embora tenha sido mais rigida com as 2 mais velhas do que com a caçula. Tinhamos de ir para a cama as 6 da tarde. Eramos acordadas as 3 ou 4 da manha para estudar – a minha mae tinha uma teoria que a essa hora estavamos mais frescas e aprendiamos melhor. Seria sem duvida verdade se eu tivesse realmente adormecido as 6 da tarde, o que nao era o caso – como nao conseguia dormir lia as escuras ate mais tarde. Nao podiamos ir a casa de amigas - o que nao impedia que fossemos sem a minha mae saber - nem podiamos convidar ninguem. Festas? Nem pensar! Havia rapazes nessas festas! No livro “como educar filhas” da minha mae, rapazes eram uma daquelas doencas epidemicas a evitar a todo o custo! Ainda hoje me rio quando me lembro das raras vezes que a minha irma mais velha saia a noite e a minha mae nao lhe dava a chave de casa para saber a que horas ela voltava. So que a minha mae adormecia e quando a mana chegava, batia na minha janela e eu abria-lhe sorrateiramente a porta. No entanto, e apesar de todos os entraves e limites colocados a minha frente, posso dizer que tive uma infancia feliz. Lembro-me com saudade dos veroes sem fim, das amigas da Vila Alice, das colegas de liceu, dos domingos passados na praia com a minha madrinha, das idas semanais a igreja com a minha avo, ao sabado. Lembro-me da primeira vez que me apaixonei, a primeira vista, um “coup de foudre” aos dez anos e pensei que ia ser para sempre! E foi!..........quase!
domingo, 4 de maio de 2008
Uma viagem sem (muitas) peripecias...
No tempo pos-dipanda, Luanda era um oasis. Claro que tinhamos recolher obrigatorio, muito embora, verdade seja dita, quando iamos a boite ou as farras convenientemente "esqueciamos" o dito cujo e nao conheco ninguem que se tivesse arrependido de nao obedecer.Sair de Luanda era um pouco mais arriscado. Nos (eu e os meus amigos) iamos todos os domingos para a praia de Santiago - a uns kms fora de Luanda, no sentido do Cacuaco - (hoje infelizmente um cemiterio de barcos). Era uma praia linda, e melhor ainda, completamente deserta - algumas imagens da praia no slideshow acima sao de Santiago. As vezes iamos para as palmeirinhas, e umas 2 vezes fomos a cabo Ledo comer lagostas - sim, mesmo nessa altura se conseguiam, se conhecessemos os pescadores e fossemos na altura certa! Eu nessa epoca trabalhava para a Schlumberger, empresa de servicos no sector de petroleos. Eu e os outros colegas angolanos, falavamos muito de Kalandula (Quedas do Duque) e todos os estrangeiros queriam la ir, mas com a situacao como estava na altura, nao era seguro nem possivel, principalmente porque teriamos de ir por terra. A estrada para Malange estava parcialmente destruida (tanto quanto nos sabiamos, visto que ninguem se aventurava a ir para la de carro) e havia o perigo de emboscadas da Unita e provaveis minas. Mas os estrangeiros tanto nos chatearam, principalmente desafiando-nos que as tais quedas nao estavam nem por ai, deviam ser muita feias pois nao os queriamos levar la, e que NEM se podiam comparar a outras quedas MAIS BONITAS no resto da Africa e do mundo, que nos (TOLAS!) decidimos provar o contrario. E FOMOS!Saimos de Luanda as 4 da manha de um belo dia em 1983 e fomos ate Kalandula. Dois carros, cheios de bidons de gasolina pois nao nos podiamos abastecer no caminho. Dois ingleses, um Nigeriano, um Portugues, um Frances e 2 Angolanas idiotas! Lembro-me bem da viagem para la: o Frances a fumar dentro do carro dizendo que com os bidoes de gasolina era TALVEZ ma ideia fumar no carro, mas... De resto, sem precalcos. Chegamos la, toca de tirar fotos (tinhamos de ter provas que la fomos!) e rapidamente voltar para Luanda (o estado - mau, pessimo - das estradas, fazia que se demorasse muito mais tempo a fazer uma viagem de 800 km). Infelizmente, a viagem de volta foi muito mais lenta, possivelmente por causa dos 2 pneus que furaram e pelo facto de a tal viagem de regresso ter sido feita praticamente toda a noite.O grande problema para mim e que nao tinha dito aos meus pais onde ia. Nessa altura ja estava divorciada e vivia de novo com eles. O meu pai, que a maioria de voces conhece daqui ou do outro lado, sempre foi muito calmo, mas a minha mae...UI! O problema e que ela descobriu, gracas a uma "amiga" minha e quando cheguei a casa as 3 da manha do dia seguinte, imaginem.... Hoje tenho filhas e percebo perfeitamente como e porque que os meus pais estavam preocupadissimos, (especialmente porque um colega do meu pai tinha sido assassinado fora de Luanda pelo carro) mas naquela altura, foi uma aventura e peras! O outro problema e que o Mike (meu marido) tambem queria muito la ir mas na altura estava de ferias - ainda HOJE nao me perdoa nao ter esperado que ele voltasse.
sexta-feira, 2 de maio de 2008
Dicionario
Uma visita ao site "Casa de Luanda", fez-me lembrar um episodio quando eu tinha uns 7-8 anos.
Um amigo do meu pai veio visitar-nos e pediu a minha irma de 4 anos, se lhe dava um beijinho. Ao que ela, muito lepida, respondeu:
"A minha mae nao deixa, tens kibuzu!" (se nao percebem, visitem a casa de Luanda).
Os meus pais nao sabiam onde se meter, eu tive de sair da sala que nao conseguia parar de rir, mas felizmente o individuo, que nunca tinha tido acesso ao dicionario Angolano, nao percebeu.
Um amigo do meu pai veio visitar-nos e pediu a minha irma de 4 anos, se lhe dava um beijinho. Ao que ela, muito lepida, respondeu:
"A minha mae nao deixa, tens kibuzu!" (se nao percebem, visitem a casa de Luanda).
Os meus pais nao sabiam onde se meter, eu tive de sair da sala que nao conseguia parar de rir, mas felizmente o individuo, que nunca tinha tido acesso ao dicionario Angolano, nao percebeu.
quinta-feira, 1 de maio de 2008
Eu nao passei.....
Eu tambem ja passei por muitos paises, muitas cidades.
Hoje vivo em Inglaterra, pais que o meu marido e as minhas filhas consideram “home”.
Quanto a mim....Ha 17 anos que tento convencer-me que me habituarei a esta terra, e habituei-me, sem duvida! Mas dai a dizer que me considero “em casa” vai uma grande distancia!
Gosto de ir a Portugal, visitar os meus pais. Prefiro o clima ameno de Lisboa ao frio daqui. No entanto, nem em Portugal me sinto em casa – tambem, pudera, nunca la vivi!
As vezes pergunto-me a mim mesma se um dia voltasse a Luanda, considerar-me-ia “em casa”? Luanda mudou muito desde que parti em 84 e vai continuar a mudar, em grande parte devido ao ritmo de crescimento vertiginoso que se verifica neste momento. Se eu voltasse, seria uma estranha para mim? Ou sera que o meu coracao a reconheceria como se reconhece o primeiro amor ao fim de muitos anos mesmo que esteja velhinho e cheio de rugas?
Ao fim e ao cabo, nao era o regime politico que eu amava, ou os edificios, mas a terra, as gentes. A terra esta cheia de cicatrizes, mas ainda e a mesma terra. E as gentes?
Nao passei por Angola, nao. E quando parti deixei ficar um pouco de mim e trouxe um pedaco dela comigo – nao basta, mas ajuda a manter a sanidade.
Hoje vivo em Inglaterra, pais que o meu marido e as minhas filhas consideram “home”.
Quanto a mim....Ha 17 anos que tento convencer-me que me habituarei a esta terra, e habituei-me, sem duvida! Mas dai a dizer que me considero “em casa” vai uma grande distancia!
Gosto de ir a Portugal, visitar os meus pais. Prefiro o clima ameno de Lisboa ao frio daqui. No entanto, nem em Portugal me sinto em casa – tambem, pudera, nunca la vivi!
As vezes pergunto-me a mim mesma se um dia voltasse a Luanda, considerar-me-ia “em casa”? Luanda mudou muito desde que parti em 84 e vai continuar a mudar, em grande parte devido ao ritmo de crescimento vertiginoso que se verifica neste momento. Se eu voltasse, seria uma estranha para mim? Ou sera que o meu coracao a reconheceria como se reconhece o primeiro amor ao fim de muitos anos mesmo que esteja velhinho e cheio de rugas?
Ao fim e ao cabo, nao era o regime politico que eu amava, ou os edificios, mas a terra, as gentes. A terra esta cheia de cicatrizes, mas ainda e a mesma terra. E as gentes?
Nao passei por Angola, nao. E quando parti deixei ficar um pouco de mim e trouxe um pedaco dela comigo – nao basta, mas ajuda a manter a sanidade.
quarta-feira, 30 de abril de 2008
Nao se passa por Angola
Este texto foi-me enviado pela minha melhor amiga em Angola, e gostei tanto que nao quiz deixa-lo nos comentarios, e por isso colei-o aqui.
Não se "passa por" Angola
É uma relação de amor/ódio, é uma contradição de sentimentos, ora se ama loucamente até às lágrimas ora se odeia brutalmente até tingir o rosto de roxo.Este país não é um país qualquer... não se passa por Angola, não se é indiferente, não se encolhem ombros ao descrever Luanda...aqui vive-se intensamente cada dia.Ninguém por aqui passou que por cá não tenha ficado, ou algo deixado por recantos e momentos guardados em cofres trancados a sete chaves.Quantas vezes não me cruzo com histórias de memórias, de há 20 ou 30 anos, de pessoas que nunca mais viveram o seu presente sem a angústia de um passado que não passou.Quantas vezes me cruzo com os filhos estudantes em terras além fronteiras que se fixam em pequenos grupos, como que a garantirem que não perdem as suas origens, chorando juntos numa kizomba agitada, as saudades da sua terra.Não se passa por Angola.Passei por Nova York, Milão, Londres...adorei Paris, Veneza, Cape Town, diverti-me em Los Angeles e comi optimamente na Baía. Tenho histórias e álbuns, momentos e contos, que conto e reconto em noites de tertúlia. Passei por lá.Mas não se passa por Angola.As marcas cravadas em rugas de sol no corpo, as mãos envelhecidas de calor e mar, os olhos que vagueiam em busca da esperança do amanhã que chega e parte com uma velocidade ímpar.A corrida contra o tempo, que teima em passar tão depressa!Ainda ontem havia guerra!Não podíamos viajar! Um agora que já é amanhã, de camiões a circular sem parar, de navios à espera no mar, uma baía salpicada de pirâmides contentores!Não sei se quero andar em frente ou voltar para trás, se admiro um arranha céus ou se me lembro de uma praia deserta, se grito no trânsito ou se admiro o desenvolvimento.Se reclamo as rendas ou se compro um apartamento...não sei se sorrio ou se choro nesta bolha em que vivemos, mas sei, com toda a certeza, que cá estou e ficarei, para o melhor e para o pior, até que a morte nos separe...
Paula Oliveira
Não se "passa por" Angola
É uma relação de amor/ódio, é uma contradição de sentimentos, ora se ama loucamente até às lágrimas ora se odeia brutalmente até tingir o rosto de roxo.Este país não é um país qualquer... não se passa por Angola, não se é indiferente, não se encolhem ombros ao descrever Luanda...aqui vive-se intensamente cada dia.Ninguém por aqui passou que por cá não tenha ficado, ou algo deixado por recantos e momentos guardados em cofres trancados a sete chaves.Quantas vezes não me cruzo com histórias de memórias, de há 20 ou 30 anos, de pessoas que nunca mais viveram o seu presente sem a angústia de um passado que não passou.Quantas vezes me cruzo com os filhos estudantes em terras além fronteiras que se fixam em pequenos grupos, como que a garantirem que não perdem as suas origens, chorando juntos numa kizomba agitada, as saudades da sua terra.Não se passa por Angola.Passei por Nova York, Milão, Londres...adorei Paris, Veneza, Cape Town, diverti-me em Los Angeles e comi optimamente na Baía. Tenho histórias e álbuns, momentos e contos, que conto e reconto em noites de tertúlia. Passei por lá.Mas não se passa por Angola.As marcas cravadas em rugas de sol no corpo, as mãos envelhecidas de calor e mar, os olhos que vagueiam em busca da esperança do amanhã que chega e parte com uma velocidade ímpar.A corrida contra o tempo, que teima em passar tão depressa!Ainda ontem havia guerra!Não podíamos viajar! Um agora que já é amanhã, de camiões a circular sem parar, de navios à espera no mar, uma baía salpicada de pirâmides contentores!Não sei se quero andar em frente ou voltar para trás, se admiro um arranha céus ou se me lembro de uma praia deserta, se grito no trânsito ou se admiro o desenvolvimento.Se reclamo as rendas ou se compro um apartamento...não sei se sorrio ou se choro nesta bolha em que vivemos, mas sei, com toda a certeza, que cá estou e ficarei, para o melhor e para o pior, até que a morte nos separe...
Paula Oliveira
HORROR DO VAZIO
Sei que pode parecer repetitivo, mas afligem-me as megalomanias se apossando de algumas cabeças que assumem responsabilidades em relação a Luanda. Uns tantos acham que merecemos ter uma capital no estilo Singapura ou Hong Kong, com torres de quarenta andares (no mínimo) ao longo do mar. Não é forçosamente para amealhar umas comissões, como imediatamente pensam os nossos cérebros borrados de preconceitos, embora uns tantos aproveitem. Nada de novo, afinal: o mundo está cheio de processos por causa do imobiliário e o cinema e a literatura até já esgotaram o tema. O que me preocupa é muita gente estar sinceramente convencida que isso é que é bonito e assim é que será viver bem. Têm horror ao vazio que nas suas cabeças significa uma praça, um jardim, um parque, um desperdício de espaço que ficaria melhor com uma torre no meio (antes dizia-se arranha-céus, mas reconheço o exagero americano ao inventar o termo, porque os céus não têm costas, são da natureza dos anjos, e ninguém imaginaria um edifício a arranhar as costas de um anjo). Torre é melhor, lembra logo aquelas construções onde se enfiavam os prisioneiros para morrerem lentamente, como a célebre Torre de Londres, ou onde se aninhava o povo da Europa medieval para se defender de ataques. Torre sim, pois os seus utentes/prisioneiros vivem no medo de sair à rua, de viver a cidade, enclausurados e protegidos da miséria que espalham à volta de si.
Queixamo-nos do trânsito na baixa da cidade (não só na baixa, sejamos justos) e nem sempre escapamos de lá cair, porque ali está concentrado mais de metade do capital financeiro e dos serviços do país. E querem fazer mais torres, para atrair mais gente e mais carros? Que as torres vão ter parques de estacionamento, dizem os defensores das ideias futuristas. O problema é entrar ou sair dos parques, porque as ruas estão atulhadas de carros. Claro que há uma solução do mesmo estilo: fazer as ruas da baixa com andares, género auto-estrada em fatias sobrepostas, ou até com viadutos por cima dos prédios, a arranharem as nuvens. Isso seria um arranhanço útil. E já agora peço, façam um túnel por baixo da baía ou uma ponte a ligar o bairro Miramar à Ilha, assim chegamos à praia em cinco minutos, como era há vinte anos atrás. Como de todos os modos a ideia geral é dar cabo da baía e da Ilha, também tanto faz, mais ponte menos ponte… Suponho também que já deve haver negociações para se tirar a Igreja da Nazaré do sítio onde está, a ocupar indevidamente um espaço nobre para mais uma torre. Uma pequena concessão não fica mal, mantém-se a igreja na cave do edifício. A História que se lixe, não foi a lição da destruição do palácio de D. Ana Joaquina? Então continuemos. Neste afã de ocupar todos os espaços, proponho também acabar com o prédio dos correios, bem feio e sem valor arquitectónico por sinal, e já agora com a praceta à sua frente, outro desperdício de espaço. E aquele compacto e azul edifício que serve a polícia? Um quarteirão inutilizado! A polícia pode ocupar um andar da nova torre. Com menos agentes, claro, para se fazer encolher o Estado, assim mandam os compêndios do liberalismo económico, nossa nova Bíblia.
Problema que estamos com ele é que todas essas novas construções vão ter sérias infiltrações de água salgada, pois ali antes era mar. E o mar gosta de recuperar o que lhe roubaram, ainda mais agora com a previsão da subida dos oceanos, como em todas as conferências se apregoa. Vai ser lindo, com as fundações das torres a serem corroídas pelo salitre e os prédios a desabarem. Felizmente para eles, já não estarão cá os responsáveis nem os seus filhos. E os netos dos outros que se lixem.
Pepetela
Queixamo-nos do trânsito na baixa da cidade (não só na baixa, sejamos justos) e nem sempre escapamos de lá cair, porque ali está concentrado mais de metade do capital financeiro e dos serviços do país. E querem fazer mais torres, para atrair mais gente e mais carros? Que as torres vão ter parques de estacionamento, dizem os defensores das ideias futuristas. O problema é entrar ou sair dos parques, porque as ruas estão atulhadas de carros. Claro que há uma solução do mesmo estilo: fazer as ruas da baixa com andares, género auto-estrada em fatias sobrepostas, ou até com viadutos por cima dos prédios, a arranharem as nuvens. Isso seria um arranhanço útil. E já agora peço, façam um túnel por baixo da baía ou uma ponte a ligar o bairro Miramar à Ilha, assim chegamos à praia em cinco minutos, como era há vinte anos atrás. Como de todos os modos a ideia geral é dar cabo da baía e da Ilha, também tanto faz, mais ponte menos ponte… Suponho também que já deve haver negociações para se tirar a Igreja da Nazaré do sítio onde está, a ocupar indevidamente um espaço nobre para mais uma torre. Uma pequena concessão não fica mal, mantém-se a igreja na cave do edifício. A História que se lixe, não foi a lição da destruição do palácio de D. Ana Joaquina? Então continuemos. Neste afã de ocupar todos os espaços, proponho também acabar com o prédio dos correios, bem feio e sem valor arquitectónico por sinal, e já agora com a praceta à sua frente, outro desperdício de espaço. E aquele compacto e azul edifício que serve a polícia? Um quarteirão inutilizado! A polícia pode ocupar um andar da nova torre. Com menos agentes, claro, para se fazer encolher o Estado, assim mandam os compêndios do liberalismo económico, nossa nova Bíblia.
Problema que estamos com ele é que todas essas novas construções vão ter sérias infiltrações de água salgada, pois ali antes era mar. E o mar gosta de recuperar o que lhe roubaram, ainda mais agora com a previsão da subida dos oceanos, como em todas as conferências se apregoa. Vai ser lindo, com as fundações das torres a serem corroídas pelo salitre e os prédios a desabarem. Felizmente para eles, já não estarão cá os responsáveis nem os seus filhos. E os netos dos outros que se lixem.
Pepetela
E que tal uma visita ao "dentista"?
Logo depois da dipanda, havia grande falta de medicos, especialistas, cirurgioes, etc. Como sempre fui bastante saudavel (fingers crossed, touch wood), o meu problema era so tentar arranjar dentista. A minha sogra naquela altura, recomendou-me alguem que tinha ficado com o consultorio do dentista onde ela ia antes de 75. Eu e a minha irma comecamos a ir la. O individuo deu-me uma anestesia local antes de comecar o tratamento - creio que bastante forte, pois nao sentia absolutamente nada, nao so no dente, mas tambem na cara e no pescoco. Para poderem perceber o que se seguiu, tenho de explicar que o tal dentista era invisual de um olho, ou seja, tinha um olho de vidro, pelo que era bastante incomodativo, embaracoso e ate um pouco alarmante ficar com os olhos abertos a olhar para ele - por isso fechei os olhos. So que, as tantas, resolvi ver o que ele estava a fazer, pois nao sentia nada, e nao e que o lumpen nao estava a tratar de dentes coisa nenhuma, estava a dar-me beijos na ponta do nariz! (hoje rio-me mas naquela altura fiquei bem brava!) Escusado sera dizer que nunca mais la voltei, ate porque descobri mais tarde que o tal dentista antes da Dipanda, era so ajudante naquele consultorio!
domingo, 27 de abril de 2008
Camarada, kê ke esta a sair?
Nunca pensei que um dia fosse dizer isto, mas que saudades das bichas, e do "que esta a sair".Muito embora, a minha amiga Zita me tenha feito lembrar que havia muito boa gente que dizia "Que e que estao a dar"? E como muito bem respondia o Sr Goncalves (pai dela): "Ali ninguem dava nada!" Quando saia acucar nao saia arroz, quando saia arroz nao saia oleo, etc...... nunca percebi bem porque e que so saia um produto de cada vez! A outra coisa que sempre me espantou foi que todos respeitavam as pedras. Nunca ouvi ninguem tentar mentir que a sua pedra era a que estava mais perto da porta! Todo o mundo deixava a sua pedra a marcar lugar e voltava para o mesmo sitio, sem querer tirar o lugar a ninguem! Mostravam todos muito mais civismo do que vejo hoje em muitas bichas europeias! Havia muito respeito pelos outros!
Os finos eram servidos nos restaurantes em copos que vinham da Bulgaria com compotas. Depois de mamar a compota, usavamos os copos. Reciclagem nao e moda nova! Naquele tempo, nos reciclavamos ja tudo em Luanda! No nosso predio, havia um camarada que chamava "Bulgarios" aos vizinhos do quarto andar. O meu pai achou piada e comecou a usar o termo "bulgario" cada vez que tinha de dizer "bulgaro". So que um dia enganou-se, e pediu um (fino) "bulgario" e o tipo ficou a olhar para ele com cara de parvo e disse: "camarada, a palavra e "bulgaro" e nao "bulgario"! "Estes portugas!....nem sabem portugues!"Nesse tempo a gastronomia tinha um lugar importante: deleitavamo-nos com as latas de fiambre, ou saboreavamos com grande prazer as latas de galinha em que tudo era tao mole que ate os ossos se podiam comer! Punhamos a dita no forno por umas 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 etc horas e o resultado era sempre o mesmo! Nunca tive problemas em engolir as ditas cujas - uns cuba libres, e ZAS! la se ia galinha, pele, ossos e tudo! Especialmente depois de uma semana a comer peixe frito!
A falta de luz e agua era um problema que tinhamos de enfrentar diariamente. Rapidamente nos habituamos a que logo que vissemos um fiozito de liquido castanho a sair da torneira tapavamos os ralos de todos os lavatorios, lava-loucas e banheiras da casa/apartamento e deixavamos ficar a encher lentamente. Havia muita gente que deixava permanentemente as torneiras abertas e os ralos tapados para o caso de vir a agua de repente......por isso acontecia frequentemente haver inundacoes enormes numa cidade que a maior parte do tempo nao tinha agua! Aprendemos tambem rapidamente a tomar "banho de caneca" - algo que exige muita pericia, tentar lavar-se o melhor possivel com o minimo de agua. E quantas vezes a agua se foi enquanto estava no chuveiro e tive de ir para a praia tentar tirar o resto do shampoo com agua salgada! Hoje vejo as inglesas todas a pagar montoes de kumbu em produtos para conseguir aquele "beach babe look" que a agua do mar da ao cabelo e que nos conseguiamos sem um minimo de esforco!
Os finos eram servidos nos restaurantes em copos que vinham da Bulgaria com compotas. Depois de mamar a compota, usavamos os copos. Reciclagem nao e moda nova! Naquele tempo, nos reciclavamos ja tudo em Luanda! No nosso predio, havia um camarada que chamava "Bulgarios" aos vizinhos do quarto andar. O meu pai achou piada e comecou a usar o termo "bulgario" cada vez que tinha de dizer "bulgaro". So que um dia enganou-se, e pediu um (fino) "bulgario" e o tipo ficou a olhar para ele com cara de parvo e disse: "camarada, a palavra e "bulgaro" e nao "bulgario"! "Estes portugas!....nem sabem portugues!"Nesse tempo a gastronomia tinha um lugar importante: deleitavamo-nos com as latas de fiambre, ou saboreavamos com grande prazer as latas de galinha em que tudo era tao mole que ate os ossos se podiam comer! Punhamos a dita no forno por umas 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 etc horas e o resultado era sempre o mesmo! Nunca tive problemas em engolir as ditas cujas - uns cuba libres, e ZAS! la se ia galinha, pele, ossos e tudo! Especialmente depois de uma semana a comer peixe frito!
A falta de luz e agua era um problema que tinhamos de enfrentar diariamente. Rapidamente nos habituamos a que logo que vissemos um fiozito de liquido castanho a sair da torneira tapavamos os ralos de todos os lavatorios, lava-loucas e banheiras da casa/apartamento e deixavamos ficar a encher lentamente. Havia muita gente que deixava permanentemente as torneiras abertas e os ralos tapados para o caso de vir a agua de repente......por isso acontecia frequentemente haver inundacoes enormes numa cidade que a maior parte do tempo nao tinha agua! Aprendemos tambem rapidamente a tomar "banho de caneca" - algo que exige muita pericia, tentar lavar-se o melhor possivel com o minimo de agua. E quantas vezes a agua se foi enquanto estava no chuveiro e tive de ir para a praia tentar tirar o resto do shampoo com agua salgada! Hoje vejo as inglesas todas a pagar montoes de kumbu em produtos para conseguir aquele "beach babe look" que a agua do mar da ao cabelo e que nos conseguiamos sem um minimo de esforco!
quinta-feira, 24 de abril de 2008
quarta-feira, 23 de abril de 2008
Out of Africa
Nasci no continente magico, Africa! Na cidade mais bela, Luanda.
Mais do que a minha memoria, os meus sentidos nao conseguem esquecer Angola. Do que me lembro melhor sao os cheiros. O odor das mangas maduras, dos maboques, do dendem. O cheiro a maresia, a terra molhada depois das chuvas. O cafe e o peixe a secar na Praia do Bispo.
Depois sao as cores. O vermelho rubro das acacias em flor, o vermelho dourado do por do sol, o vermelho da terra, o azul do ceu, o esverdeado do mar, os panos coloridos das kitandeiras. Nesta viagem sem fim da minha memoria, seguem-se os ruidos. As calemas na contracosta, a chuva a cair num telhado de zinco, as trovoadas ensurdecedoras, as noites de merengues e kizombas. Os pregoes no mercado. Por fim os sabores. A acidez dos cajus, a docura aveludada das mangas e mamoes, a aspereza da mucua. O picante do jindungo e a leveza da kifufutila. Sinto ainda a areia da praia a escapar entre os meus dedos, os meus pes a correr na agua fria do mar, a brisa morna de uma tarde na ilha, o beijo do sol na minha pele.
Saudade. Tenho saudade da vida pacata e calma que nunca mais encontrei em pais nenhum. Dos amigos que perdi quando partiram em 75. E os que perdi tambem quando foi a minha vez de partir em 84. Saudades do BP, da Vila Alice, das Ingombotas, da Mutamba e sobretudo do Mussulo. Saudades dos coqueiros e da praia, do Avis, Miramar e Imperio. Das barrocas e da marginal, das Palmeirinhas, Santiago e de Cabo Ledo. Das chuvas que me deixavam encharcada em apenas segundos mas que nunca duravam mais de 2 horas.
Tenho saudades de Africa. Tenho saudades de um lugar onde me sinto em casa, um lugar com o qual o meu espirito se identifica. Nao foi so o lugar onde eu vivia que perdi. Perdi as minhas raizes, a minha cultura, a sensacao de "pertencer" a um lugar. Sinto saudades enormes de Angola. E tal como Alda Lara tambem quero um dia poder dizer “Voltei”!
Mais do que a minha memoria, os meus sentidos nao conseguem esquecer Angola. Do que me lembro melhor sao os cheiros. O odor das mangas maduras, dos maboques, do dendem. O cheiro a maresia, a terra molhada depois das chuvas. O cafe e o peixe a secar na Praia do Bispo.
Depois sao as cores. O vermelho rubro das acacias em flor, o vermelho dourado do por do sol, o vermelho da terra, o azul do ceu, o esverdeado do mar, os panos coloridos das kitandeiras. Nesta viagem sem fim da minha memoria, seguem-se os ruidos. As calemas na contracosta, a chuva a cair num telhado de zinco, as trovoadas ensurdecedoras, as noites de merengues e kizombas. Os pregoes no mercado. Por fim os sabores. A acidez dos cajus, a docura aveludada das mangas e mamoes, a aspereza da mucua. O picante do jindungo e a leveza da kifufutila. Sinto ainda a areia da praia a escapar entre os meus dedos, os meus pes a correr na agua fria do mar, a brisa morna de uma tarde na ilha, o beijo do sol na minha pele.
Saudade. Tenho saudade da vida pacata e calma que nunca mais encontrei em pais nenhum. Dos amigos que perdi quando partiram em 75. E os que perdi tambem quando foi a minha vez de partir em 84. Saudades do BP, da Vila Alice, das Ingombotas, da Mutamba e sobretudo do Mussulo. Saudades dos coqueiros e da praia, do Avis, Miramar e Imperio. Das barrocas e da marginal, das Palmeirinhas, Santiago e de Cabo Ledo. Das chuvas que me deixavam encharcada em apenas segundos mas que nunca duravam mais de 2 horas.
Tenho saudades de Africa. Tenho saudades de um lugar onde me sinto em casa, um lugar com o qual o meu espirito se identifica. Nao foi so o lugar onde eu vivia que perdi. Perdi as minhas raizes, a minha cultura, a sensacao de "pertencer" a um lugar. Sinto saudades enormes de Angola. E tal como Alda Lara tambem quero um dia poder dizer “Voltei”!
Quando te disse
que era da terra selvagem
do vento azul e das praias morenas...
do arco-iris das mil cores
do sol com fruta madura
e das madrugadas serenas...
das cubatas e musseques
das palmeiras com dendém
das picadas com poeira
da mandioca e fuba também...
das mangas e fruta pinha
do vermelho do café
dos maboques e tamarindos
dos cocos, do ai u'é...
das praças no chão estendidas
com missangas de mil cores
os panos do Congo e os kimonos
os aromas, os odores...
dos chinelos no chão quente
do andar descontraido
da cerveja ao fim de tarde
com o sol adormecido...
dos merenges e do batuque
dos muquixes e dos mupungos
dos imbondeiros e das gajajas
da macanha e dos maiungos.
da cana doce e do mamão
da papaia e do cajú...
tu sorriste e sussurraste
"Sou da mesma terra que tu!"
Ana Paula Lavado
que era da terra selvagem
do vento azul e das praias morenas...
do arco-iris das mil cores
do sol com fruta madura
e das madrugadas serenas...
das cubatas e musseques
das palmeiras com dendém
das picadas com poeira
da mandioca e fuba também...
das mangas e fruta pinha
do vermelho do café
dos maboques e tamarindos
dos cocos, do ai u'é...
das praças no chão estendidas
com missangas de mil cores
os panos do Congo e os kimonos
os aromas, os odores...
dos chinelos no chão quente
do andar descontraido
da cerveja ao fim de tarde
com o sol adormecido...
dos merenges e do batuque
dos muquixes e dos mupungos
dos imbondeiros e das gajajas
da macanha e dos maiungos.
da cana doce e do mamão
da papaia e do cajú...
tu sorriste e sussurraste
"Sou da mesma terra que tu!"
Ana Paula Lavado
As gloriosas FAPLA
Lembro-me como se fosse hoje: meados de Novembro de 1975, na bicha para me alistar nas FAPLA (nem precisa explicacao!) - ainda hoje tenho o papelinho a comprovar, que o meu marido ADORA mostrar a todo o mundo!Depois, direitinha p'ra bicha da Universidade, Faculdade de Economia - as aulas iam comecar em breve e eu nao ia perder o lugar!Ao principio fizemos "recuperacao" - o ano lectivo 74-75 tinha acabado mais cedo que previsto e nao tinhamos dado a materia toda. Os 2 anos que passei na faculdade foram memoraveis. Fiz uma quantidade de amigos bem fixes, todos usavam sandalias de pneu. No inicio tive optimos professores (infelizmente nao durou muito) - a Laurinda (do morro da samba, excelente prof de matematica), o Vicente que dava geografia economica (a minha irma encontrou-o uma vez em Lisboa, ainda se lembrava de mim, deve ter sido pela inteligencia fabulastica que ele viu em mim!...ou seria pela kazukutice?) e outros.Aos sabados iamos cortar cana de acucar para ajudar a reconstruccao nacional e sabem???? Adoravamos! Iamos am grupos, armados ate aos dentes de catanas e era uma kigoza! E nunca ninguem se magoou! Hoje em dia, as leis de seguranca no trabalho nunca permitiriam isto! Luanda, com todas as suas dificuldades, era um oasis. E o melhor de tudo e que os que decidiram la ficar praticamente conheciam-se todos, ou se nao se conheciam conheciam o kamba do avilo! Era uma "comunidade pequinininha!"
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