Um blog das minhas recordacoes sobre Angola nao ficaria completo nem faria sentido sem entradas sobre a minha infancia e adolescencia, sobre o tempo antes da independencia.
Geograficamente, Luanda era um paraiso. Nao era um paraiso sem problemas, devido as diferencas sociais que existiam. Tenho orgulho em dizer que os meus pais sempre tentaram ajudar pessoas afectadas por essas diferencas e gracas a essa atitude fizeram amigos para a vida inteira – amigos que em 2006 quando eles voltaram a Luanda de ferias, os acolheram de bracos abertos com imenso carinho.
Que dizer sobre esses anos inesqueciveis e especiais? Por onde comecar?
Guardo recordacoes lindas dos primeiros 17 anos de vida. Tive uma infancia e adolescencia muito mais “carefree” do que as minhas filhas, com menos preocupacoes. E embora lhes seja dificil a elas acreditar, fui muito feliz sem TV, celulares, computadores e internet. Sem roupas de marca nem ipods. Jogava ao ringue na rua e andava de bicicleta e de patins na rua tambem. Estas memorias sao preciosas, especialmente porque eu sou e sempre fui uma nulidade em desporto: joguei basket mas nunca fiz nada de jeito, a minha coordenacao (ou falta dela) entre os olhos e a mao (esquerda) e de bradar aos ceus, por isso nunca dei nada em tenis ou badminton, sei nadar bem mas sem estilo nenhum, as minhas filhas pensam que ver-me a fazer ski e uma das coisas mais divertidas do mundo, enfim, ja perceberam aonde quero chegar..... Mas andar de patins eu andava mesmo bem! Muito melhor do que a maioria. Infelizmente, patinagem nao constava da lista de desportos do livro da minha mae e por isso pos-me no ballet onde sempre me senti como um hipo fora da agua!
Eramos 3: eu era a do meio, a minha irma 3 anos e meio mais nova e a minha irma 7 anos mais velha que eu. Para ser exacta, ela e minha prima, mas por mais que recue no tempo, nao me lembro de mim sem ela. A nossa educacao foi bastante rigida. A minha mae era muito disciplinadora e nao nos dava liberdade nenhuma, muito embora tenha sido mais rigida com as 2 mais velhas do que com a caçula. Tinhamos de ir para a cama as 6 da tarde. Eramos acordadas as 3 ou 4 da manha para estudar – a minha mae tinha uma teoria que a essa hora estavamos mais frescas e aprendiamos melhor. Seria sem duvida verdade se eu tivesse realmente adormecido as 6 da tarde, o que nao era o caso – como nao conseguia dormir lia as escuras ate mais tarde. Nao podiamos ir a casa de amigas - o que nao impedia que fossemos sem a minha mae saber - nem podiamos convidar ninguem. Festas? Nem pensar! Havia rapazes nessas festas! No livro “como educar filhas” da minha mae, rapazes eram uma daquelas doencas epidemicas a evitar a todo o custo! Ainda hoje me rio quando me lembro das raras vezes que a minha irma mais velha saia a noite e a minha mae nao lhe dava a chave de casa para saber a que horas ela voltava. So que a minha mae adormecia e quando a mana chegava, batia na minha janela e eu abria-lhe sorrateiramente a porta. No entanto, e apesar de todos os entraves e limites colocados a minha frente, posso dizer que tive uma infancia feliz. Lembro-me com saudade dos veroes sem fim, das amigas da Vila Alice, das colegas de liceu, dos domingos passados na praia com a minha madrinha, das idas semanais a igreja com a minha avo, ao sabado. Lembro-me da primeira vez que me apaixonei, a primeira vista, um “coup de foudre” aos dez anos e pensei que ia ser para sempre! E foi!..........quase!
1 comentário:
:-)
Está bestial este post.
"rapazes eram uma daquelas doencas epidemicas a evitar a todo o custo"
Ahahahah!!!!
«“coup de foudre” aos dez anos e pensei que ia ser para sempre!»
eu "tive" a Cristina tb aos 10 anos...
dps mudámos d escolinhas...
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