quarta-feira, 21 de maio de 2008
...e mucuas
Quando o Mike estava a trabalhar em Luanda, andava triste porque nao havia lugar para fazer o desporto favorito dele. O que ele queria era ir as Pedras Negras, em Pungo Andongo, mas na altura era muito perigoso. Um dia descobriu que a falta de montanhas, podia escalar.....os imbondeiros!!! E um dia la fomos, a procura de imbondeiros apropriados ao alpinismo. Fartamo-nos de andar, p'ra frente e para tras, ate encontrarmos o imbondeiro ideal. Uns tinham formigas, outros nao eram suficientemente ingremes.... Ja estavamos para desistir quando finalmente, ele viu o imbondeiro perfeito, a sombra do qual estava sentado um velhote. Quando nos viu, imediatamente se ofereceu para nos vender a mucua que tinha. Eu nao tinha muita vontade de comer mucua, mas para ajudar o velhote e dar ao Mike a oportunidade de provar, ate porque ele estava curioso com essa fruta que nunca tinha visto, comprei. O Mike provou. Perguntei-lhe se tinha gostado. A resposta foi: "Quando eu quiser sentir-me como se estivesse a crescer-me barba nos dentes, estou seguro que arranjo uma maneira mais agradavel de o fazer, sem ter de comer mucua!"
Funge....
A primeira vez que levei o meu marido (nessa altura ainda nao era) a almocar a casa dos meus pais foi uma risada! Foi uma coisa totalmente espontanea, nao planeada. Eu tive de trabalhar num sabado de manha para acabar uma apresentacao a clientes e ele levou-me a casa. Perguntei se queria almocar embora nem soubesse o que era o tal almoco.....Um pouco arriscado, confesso, ja que corria o ano de 1983, em Luanda nao havia muita comida e comia-se aquilo que se arranjava! Nesse dia o Ze tinha ido visitar uns amigos pescadores ali mesmo na Chicala e tinha trazido peixe bom. Como nao havia arroz nem batatas, o peixe era acompanhado de funge, claro! Foi um filme! Ver o meu pai, Portugues, (que embora "habituado" ao funge e comendo-o regularmente, nao tinha por ele grandes amores!) a tentar ensinar um ingles a comer funge! Eu nao conseguia parar de rir! O meu pai molhava o funge no molho e dizia: "Diz-lhe que faca de conta que esta a comer ostras!" "NAO mastigue, HOMEM!!! ENGULA!!!Veja so como isto desliza pela goela abaixo!" Para tornar a situacao ainda mais comica, nesta altura o Mike ainda nao falava Portugues, e embora o Ze lesse e escrevesse um pouco de ingles, falar era outra conversa! Depois dizia-me: "Pensa bem, esse homem nunca vai aprender a gostar de funge!" Quando traduzi, o Mike respondeu: "Nao sei se quero aprender, nao!" Ainda hoje ele me diz na brincadeira que so os meus encantos o convenceram a ficar com uma mulher que come funge! E nao me perguntem o que eu vi num homem que nao come funge NEM mucua!
segunda-feira, 12 de maio de 2008
TAAG
O meu primeiro emprego a serio foi na TAAG - antes desse dei aulas mas isso nao conta e e outro mambo que contarei mais tarde. TAAG como devem saber, sao os Transportes Aereos de Angola ou "Take Another Goat" como os ingleses gostavam de se referir a companhia. O meu trabalho nao era muito fascinante; eu nao voava, tinha os pes bem firmes no chao! Trabalhei nas Financas, no quinto andar do predio da Luis de Camoes ou Rua da Missao, na seccao de Interline. Foi la que conheci a minha melhor amiga, uma daquelas amigas que sao mesmo para a vida inteira, uma daquelas que depois de nao nos vermos durante anos, encontramo-nos e e como se nos tivessemos visto ontem! Recomeca-se onde paramos ha 20 anos atras! O nosso trabalho era aceitar (ou rejeitar) facturacao de tickets nossos viajados em outras companhias. Muitas makas tivemos nos com a Cubana e outras que pensavam que nos podiam meter a unha! Hoje quando vou a uma agencia de viagens penso que o pessoal que la trabalha nao sabe a vida facil que tem. Poem no computador a origem, o destino, a data e ZAS! Teem o preco! Naquele tempo nos tinhamos de usar uns calhamacos duns manuais que nos davam a distancia em milhas de A a B a C e nos tinhamos de calcular, com a ajuda de uma maquina do tempo do caprandanda, quanto era a tal viagem! (quando contei isto as minhas filhas elas perguntaram-me se nunca fui atacada por nenhum dinossauro!) O departamento de computadores que ocupava o decimo andar inteiro (a TAAG era p’ra frentex, tinha computadores e tudo!) usava uns monstros dumas maquinas que trabalhavam com cartoezinhos perforados. A vida na TAAG era boa. As vezes iamos em grupos matabichar ao Tropico. O matabicho era sempre ovos com fiambre, mas sabia bem! As 5 em ponto era a debandada geral. Os elevadores iam tao cheios que nao conseguiam parar no R/C, iam directos a cave. O problema e que a unica maneira de sair da cave era pelo elevador...as vezes eram 6 horas quando conseguiamos finalmente sair do edificio! E interessante notar que eu sempre tive muito mais medo dos elevadores da TAAG do que de balas perdidas, emboscadas, recolher obrigatorio, denuncias, Casa da Reclusao, roubos, etc,etc....Naquele tempo havia muitas piadas sobre a seguranca dos voos (o pessoal que tinha sido enviado para a Jugoslavia ainda nao tinha acabado o curso) o que era injusto, pois nessa altura era a TAP que fazia a manutencao e providenciava a maior parte do pessoal de voo. Houve alguns sustos, mas nada por ai alem......e contava-se que numa emergencia do Sal a Havana descobriram que as caixas das mascaras de oxigenio tinham sido coladas com Patex, mas acho que isso foi so mujimbo..... Mas todo o mundo dizia que Deus era Angolano e jogava football pela TAAG!
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Pre-Dipanda
Um blog das minhas recordacoes sobre Angola nao ficaria completo nem faria sentido sem entradas sobre a minha infancia e adolescencia, sobre o tempo antes da independencia.
Geograficamente, Luanda era um paraiso. Nao era um paraiso sem problemas, devido as diferencas sociais que existiam. Tenho orgulho em dizer que os meus pais sempre tentaram ajudar pessoas afectadas por essas diferencas e gracas a essa atitude fizeram amigos para a vida inteira – amigos que em 2006 quando eles voltaram a Luanda de ferias, os acolheram de bracos abertos com imenso carinho.
Que dizer sobre esses anos inesqueciveis e especiais? Por onde comecar?
Guardo recordacoes lindas dos primeiros 17 anos de vida. Tive uma infancia e adolescencia muito mais “carefree” do que as minhas filhas, com menos preocupacoes. E embora lhes seja dificil a elas acreditar, fui muito feliz sem TV, celulares, computadores e internet. Sem roupas de marca nem ipods. Jogava ao ringue na rua e andava de bicicleta e de patins na rua tambem. Estas memorias sao preciosas, especialmente porque eu sou e sempre fui uma nulidade em desporto: joguei basket mas nunca fiz nada de jeito, a minha coordenacao (ou falta dela) entre os olhos e a mao (esquerda) e de bradar aos ceus, por isso nunca dei nada em tenis ou badminton, sei nadar bem mas sem estilo nenhum, as minhas filhas pensam que ver-me a fazer ski e uma das coisas mais divertidas do mundo, enfim, ja perceberam aonde quero chegar..... Mas andar de patins eu andava mesmo bem! Muito melhor do que a maioria. Infelizmente, patinagem nao constava da lista de desportos do livro da minha mae e por isso pos-me no ballet onde sempre me senti como um hipo fora da agua!
Eramos 3: eu era a do meio, a minha irma 3 anos e meio mais nova e a minha irma 7 anos mais velha que eu. Para ser exacta, ela e minha prima, mas por mais que recue no tempo, nao me lembro de mim sem ela. A nossa educacao foi bastante rigida. A minha mae era muito disciplinadora e nao nos dava liberdade nenhuma, muito embora tenha sido mais rigida com as 2 mais velhas do que com a caçula. Tinhamos de ir para a cama as 6 da tarde. Eramos acordadas as 3 ou 4 da manha para estudar – a minha mae tinha uma teoria que a essa hora estavamos mais frescas e aprendiamos melhor. Seria sem duvida verdade se eu tivesse realmente adormecido as 6 da tarde, o que nao era o caso – como nao conseguia dormir lia as escuras ate mais tarde. Nao podiamos ir a casa de amigas - o que nao impedia que fossemos sem a minha mae saber - nem podiamos convidar ninguem. Festas? Nem pensar! Havia rapazes nessas festas! No livro “como educar filhas” da minha mae, rapazes eram uma daquelas doencas epidemicas a evitar a todo o custo! Ainda hoje me rio quando me lembro das raras vezes que a minha irma mais velha saia a noite e a minha mae nao lhe dava a chave de casa para saber a que horas ela voltava. So que a minha mae adormecia e quando a mana chegava, batia na minha janela e eu abria-lhe sorrateiramente a porta. No entanto, e apesar de todos os entraves e limites colocados a minha frente, posso dizer que tive uma infancia feliz. Lembro-me com saudade dos veroes sem fim, das amigas da Vila Alice, das colegas de liceu, dos domingos passados na praia com a minha madrinha, das idas semanais a igreja com a minha avo, ao sabado. Lembro-me da primeira vez que me apaixonei, a primeira vista, um “coup de foudre” aos dez anos e pensei que ia ser para sempre! E foi!..........quase!
Geograficamente, Luanda era um paraiso. Nao era um paraiso sem problemas, devido as diferencas sociais que existiam. Tenho orgulho em dizer que os meus pais sempre tentaram ajudar pessoas afectadas por essas diferencas e gracas a essa atitude fizeram amigos para a vida inteira – amigos que em 2006 quando eles voltaram a Luanda de ferias, os acolheram de bracos abertos com imenso carinho.
Que dizer sobre esses anos inesqueciveis e especiais? Por onde comecar?
Guardo recordacoes lindas dos primeiros 17 anos de vida. Tive uma infancia e adolescencia muito mais “carefree” do que as minhas filhas, com menos preocupacoes. E embora lhes seja dificil a elas acreditar, fui muito feliz sem TV, celulares, computadores e internet. Sem roupas de marca nem ipods. Jogava ao ringue na rua e andava de bicicleta e de patins na rua tambem. Estas memorias sao preciosas, especialmente porque eu sou e sempre fui uma nulidade em desporto: joguei basket mas nunca fiz nada de jeito, a minha coordenacao (ou falta dela) entre os olhos e a mao (esquerda) e de bradar aos ceus, por isso nunca dei nada em tenis ou badminton, sei nadar bem mas sem estilo nenhum, as minhas filhas pensam que ver-me a fazer ski e uma das coisas mais divertidas do mundo, enfim, ja perceberam aonde quero chegar..... Mas andar de patins eu andava mesmo bem! Muito melhor do que a maioria. Infelizmente, patinagem nao constava da lista de desportos do livro da minha mae e por isso pos-me no ballet onde sempre me senti como um hipo fora da agua!
Eramos 3: eu era a do meio, a minha irma 3 anos e meio mais nova e a minha irma 7 anos mais velha que eu. Para ser exacta, ela e minha prima, mas por mais que recue no tempo, nao me lembro de mim sem ela. A nossa educacao foi bastante rigida. A minha mae era muito disciplinadora e nao nos dava liberdade nenhuma, muito embora tenha sido mais rigida com as 2 mais velhas do que com a caçula. Tinhamos de ir para a cama as 6 da tarde. Eramos acordadas as 3 ou 4 da manha para estudar – a minha mae tinha uma teoria que a essa hora estavamos mais frescas e aprendiamos melhor. Seria sem duvida verdade se eu tivesse realmente adormecido as 6 da tarde, o que nao era o caso – como nao conseguia dormir lia as escuras ate mais tarde. Nao podiamos ir a casa de amigas - o que nao impedia que fossemos sem a minha mae saber - nem podiamos convidar ninguem. Festas? Nem pensar! Havia rapazes nessas festas! No livro “como educar filhas” da minha mae, rapazes eram uma daquelas doencas epidemicas a evitar a todo o custo! Ainda hoje me rio quando me lembro das raras vezes que a minha irma mais velha saia a noite e a minha mae nao lhe dava a chave de casa para saber a que horas ela voltava. So que a minha mae adormecia e quando a mana chegava, batia na minha janela e eu abria-lhe sorrateiramente a porta. No entanto, e apesar de todos os entraves e limites colocados a minha frente, posso dizer que tive uma infancia feliz. Lembro-me com saudade dos veroes sem fim, das amigas da Vila Alice, das colegas de liceu, dos domingos passados na praia com a minha madrinha, das idas semanais a igreja com a minha avo, ao sabado. Lembro-me da primeira vez que me apaixonei, a primeira vista, um “coup de foudre” aos dez anos e pensei que ia ser para sempre! E foi!..........quase!
domingo, 4 de maio de 2008
Uma viagem sem (muitas) peripecias...
No tempo pos-dipanda, Luanda era um oasis. Claro que tinhamos recolher obrigatorio, muito embora, verdade seja dita, quando iamos a boite ou as farras convenientemente "esqueciamos" o dito cujo e nao conheco ninguem que se tivesse arrependido de nao obedecer.Sair de Luanda era um pouco mais arriscado. Nos (eu e os meus amigos) iamos todos os domingos para a praia de Santiago - a uns kms fora de Luanda, no sentido do Cacuaco - (hoje infelizmente um cemiterio de barcos). Era uma praia linda, e melhor ainda, completamente deserta - algumas imagens da praia no slideshow acima sao de Santiago. As vezes iamos para as palmeirinhas, e umas 2 vezes fomos a cabo Ledo comer lagostas - sim, mesmo nessa altura se conseguiam, se conhecessemos os pescadores e fossemos na altura certa! Eu nessa epoca trabalhava para a Schlumberger, empresa de servicos no sector de petroleos. Eu e os outros colegas angolanos, falavamos muito de Kalandula (Quedas do Duque) e todos os estrangeiros queriam la ir, mas com a situacao como estava na altura, nao era seguro nem possivel, principalmente porque teriamos de ir por terra. A estrada para Malange estava parcialmente destruida (tanto quanto nos sabiamos, visto que ninguem se aventurava a ir para la de carro) e havia o perigo de emboscadas da Unita e provaveis minas. Mas os estrangeiros tanto nos chatearam, principalmente desafiando-nos que as tais quedas nao estavam nem por ai, deviam ser muita feias pois nao os queriamos levar la, e que NEM se podiam comparar a outras quedas MAIS BONITAS no resto da Africa e do mundo, que nos (TOLAS!) decidimos provar o contrario. E FOMOS!Saimos de Luanda as 4 da manha de um belo dia em 1983 e fomos ate Kalandula. Dois carros, cheios de bidons de gasolina pois nao nos podiamos abastecer no caminho. Dois ingleses, um Nigeriano, um Portugues, um Frances e 2 Angolanas idiotas! Lembro-me bem da viagem para la: o Frances a fumar dentro do carro dizendo que com os bidoes de gasolina era TALVEZ ma ideia fumar no carro, mas... De resto, sem precalcos. Chegamos la, toca de tirar fotos (tinhamos de ter provas que la fomos!) e rapidamente voltar para Luanda (o estado - mau, pessimo - das estradas, fazia que se demorasse muito mais tempo a fazer uma viagem de 800 km). Infelizmente, a viagem de volta foi muito mais lenta, possivelmente por causa dos 2 pneus que furaram e pelo facto de a tal viagem de regresso ter sido feita praticamente toda a noite.O grande problema para mim e que nao tinha dito aos meus pais onde ia. Nessa altura ja estava divorciada e vivia de novo com eles. O meu pai, que a maioria de voces conhece daqui ou do outro lado, sempre foi muito calmo, mas a minha mae...UI! O problema e que ela descobriu, gracas a uma "amiga" minha e quando cheguei a casa as 3 da manha do dia seguinte, imaginem.... Hoje tenho filhas e percebo perfeitamente como e porque que os meus pais estavam preocupadissimos, (especialmente porque um colega do meu pai tinha sido assassinado fora de Luanda pelo carro) mas naquela altura, foi uma aventura e peras! O outro problema e que o Mike (meu marido) tambem queria muito la ir mas na altura estava de ferias - ainda HOJE nao me perdoa nao ter esperado que ele voltasse.
sexta-feira, 2 de maio de 2008
Dicionario
Uma visita ao site "Casa de Luanda", fez-me lembrar um episodio quando eu tinha uns 7-8 anos.
Um amigo do meu pai veio visitar-nos e pediu a minha irma de 4 anos, se lhe dava um beijinho. Ao que ela, muito lepida, respondeu:
"A minha mae nao deixa, tens kibuzu!" (se nao percebem, visitem a casa de Luanda).
Os meus pais nao sabiam onde se meter, eu tive de sair da sala que nao conseguia parar de rir, mas felizmente o individuo, que nunca tinha tido acesso ao dicionario Angolano, nao percebeu.
Um amigo do meu pai veio visitar-nos e pediu a minha irma de 4 anos, se lhe dava um beijinho. Ao que ela, muito lepida, respondeu:
"A minha mae nao deixa, tens kibuzu!" (se nao percebem, visitem a casa de Luanda).
Os meus pais nao sabiam onde se meter, eu tive de sair da sala que nao conseguia parar de rir, mas felizmente o individuo, que nunca tinha tido acesso ao dicionario Angolano, nao percebeu.
quinta-feira, 1 de maio de 2008
Eu nao passei.....
Eu tambem ja passei por muitos paises, muitas cidades.
Hoje vivo em Inglaterra, pais que o meu marido e as minhas filhas consideram “home”.
Quanto a mim....Ha 17 anos que tento convencer-me que me habituarei a esta terra, e habituei-me, sem duvida! Mas dai a dizer que me considero “em casa” vai uma grande distancia!
Gosto de ir a Portugal, visitar os meus pais. Prefiro o clima ameno de Lisboa ao frio daqui. No entanto, nem em Portugal me sinto em casa – tambem, pudera, nunca la vivi!
As vezes pergunto-me a mim mesma se um dia voltasse a Luanda, considerar-me-ia “em casa”? Luanda mudou muito desde que parti em 84 e vai continuar a mudar, em grande parte devido ao ritmo de crescimento vertiginoso que se verifica neste momento. Se eu voltasse, seria uma estranha para mim? Ou sera que o meu coracao a reconheceria como se reconhece o primeiro amor ao fim de muitos anos mesmo que esteja velhinho e cheio de rugas?
Ao fim e ao cabo, nao era o regime politico que eu amava, ou os edificios, mas a terra, as gentes. A terra esta cheia de cicatrizes, mas ainda e a mesma terra. E as gentes?
Nao passei por Angola, nao. E quando parti deixei ficar um pouco de mim e trouxe um pedaco dela comigo – nao basta, mas ajuda a manter a sanidade.
Hoje vivo em Inglaterra, pais que o meu marido e as minhas filhas consideram “home”.
Quanto a mim....Ha 17 anos que tento convencer-me que me habituarei a esta terra, e habituei-me, sem duvida! Mas dai a dizer que me considero “em casa” vai uma grande distancia!
Gosto de ir a Portugal, visitar os meus pais. Prefiro o clima ameno de Lisboa ao frio daqui. No entanto, nem em Portugal me sinto em casa – tambem, pudera, nunca la vivi!
As vezes pergunto-me a mim mesma se um dia voltasse a Luanda, considerar-me-ia “em casa”? Luanda mudou muito desde que parti em 84 e vai continuar a mudar, em grande parte devido ao ritmo de crescimento vertiginoso que se verifica neste momento. Se eu voltasse, seria uma estranha para mim? Ou sera que o meu coracao a reconheceria como se reconhece o primeiro amor ao fim de muitos anos mesmo que esteja velhinho e cheio de rugas?
Ao fim e ao cabo, nao era o regime politico que eu amava, ou os edificios, mas a terra, as gentes. A terra esta cheia de cicatrizes, mas ainda e a mesma terra. E as gentes?
Nao passei por Angola, nao. E quando parti deixei ficar um pouco de mim e trouxe um pedaco dela comigo – nao basta, mas ajuda a manter a sanidade.
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