Em 81 fui trabalhar para a Schlumberger por “acidente”. A Maju, uma amiga que trabalhava na refinaria, disse que precisavam de alguem com optimo nivel de ingles e como as condicoes eram muito melhores do que as que eu tinha na Astaldi, la fui eu a entrevista. Ofereceram-me o emprego (na Dowell), que deve ter ficado nos anais da historia como o emprego mais curto - durou 8 horas! Na altura eu ja nao tinha carro, (o tal acidente abaixo mencionado) e no primeiro dia apanhei boleia da Maju para a refinaria as 8 da manha. Infelizmente, ela tinha muito trabalho, e como ia ficar ate tarde, sugeriu que eu apanhasse boleia de um engenheiro americano que ia voltar para Luanda ao fim da tarde. Eu estava um pouco relutante, porque ja adivinhava o que ia acontecer (sabemos sempre o que a casa gasta!), mas a alternativa seria ainda pior (chegar a casa muito mais tarde) por isso aceitei a boleia. Nao vou descrever o que aconteceu a seguir, basta dizer que recebi um ultimatum: “ou jurava que nunca mais apanhava boleia de um estrangeiro ou deixava imediatamente o emprego”. Como sabia que nao podia jurar tal coisa, optei por ficar desempregada. (Nao foi nessa altura que divorciei, ainda fui paciente por mais 1 anito!) Foi ai que apareceu o tal emprego na Schlum, e embora eu tivesse de novo de trabalhar com estrangeiros, as boleias que apanhasse seriam com Angolanos, e como a situacao do orcamento familiar estava a ficar negra sem o meu salario nem o supermercado estrangeiro a que eu normalmente tinha direito, “garantiram-me” que nao haveria problemas!
A Schlum foi um optimo patrao, embora bastante exigente. Os dois Directores com quem trabalhei eram individuos impecaveis e apreciavam o meu trabalho. Claro que havia pormenores que me irritavam – como por exemplo, o director do Soyo que nunca conseguia organizar-se a tempo de enviar o relatorio de fim do mes para Luanda antes da data em que era devido e que por isso me ditava o tal relatorio pela radio, com uma recepcao normalmente muito ma! Para piorar a situacao, ele era frances e falava ingles com uma pronuncia terrivel! E tambem o facto de nao termos telefones na refinaria, o que me obrigava a ir a Astaldi (o director era muito simpatico e felizmente nao me guardou rancor por ter ido embora) todos os dias enviar e receber telexes.
Quando o trabalho exigia que me deslocasse durante as horas de servico, usava um Mazda em muito mas condicoes que a Schlum reservava para o “pessoal Angolano”. O tal carrito ate que andava bem, mas um dia, eu ia como passageira, e quando o condutor travou de repente, o meu pe foi parar na rua! E mesmo, verdade verdadinha, havia um buraco no fundo do carro onde o passageiro punha os pes, que dessa vez fez buracao! E o meu pe entrou la dentro, ou melhor saiu para fora!
Um dia, a caminho da refinaria, o pneu furou. Nao pude trocar porque os mecanicos da companhia tinham tirado o macaco do carro e nao o tinham devolvido. Por sorte passou nessa altura um engenheiro que me deu boleia.
Tentei explicar ao director que tinha chegado tarde porque o carro nao tinha macaco e, desconhecendo que a palavra em ingles e "jack" chamei-lhe naturalmente "monkey".
O director muito espantado a perguntar-me para que necessitava de macaco no carro, como tinha o macaco ido la parar e se ja la nao estava o que teria acontecido. Claro que lhe respondi que toda a gente tinha macaco no carro, mas ao ver a expressao dele finalmente percebi que havia um desentendimento qualquer e mencionei o pneu furado. Tudo ficou esclarecido, mas durante meses ele divertiu os convidados contando a historia a cada jantar que dava. Eu falava bem ingles, e ja sabia que muitas vezes a traducao literal nao funciona, mas ha certas palavras que nao aprendemos na escola e eu nao fazia ideia nenhuma como se dizia macaco. Devo dizer que nunca mais esqueci.
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